quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Entrevista com Andrea Sztiler, na íntegra!

Para você que ficou curioso para saber tudo que a Sztiler contou para a Equipe da Sababah, segue abaixo a entrevista da brasileira - israelense! Aproveita!

Sababah - Em que ano você fez Aliá?

Andrea Sztiler - Fiz Aliá em janeiro de 2008, mas estive em Israel quase todo ano anterior, em 2007. Fiz um curso do MASA (Projeto da Agência Judaica e Governo do Estado de Israel de programas de longa duração em Israel para jovens judeus) chamado, na epoca, de Kesher Am, para coreógrafos de Dança Israeli. O curso me foi proporcionado pela Fundação Kadima. Na minha volta, pude repassar aos coreógrafos de Porto Alegre os materiais, as vivências, enfim, o que é a Dança Israeli em Israel. Pessoalmente, esse tempo anterior a minha Aliá foi fundamental para uma adaptação bem mais suave e tranquila quando voltei como Ola Chadashá (nova "imigrante"). Foi durante o curso que decidi sobre minha Aliá, pude pesquisar sobre mestrados, entender, aos poucos, a cultura israelense e visualizar de uma forma mais realista o que seria essa nova etapa da minha vida.

Sababah - Porque morar em Israel? O que, na tua opinião, motiva uma mulher a ir morar em Israel?

Sztiler - Acredito que o que motiva qualquer ser humano é o sentimento, a identificação e a busca de objetivos. Porque Israel? depois de Porto Alegre, Israel é tambem nosso lugar, nossa casa, digamos assim. E isso nao é propaganda sionista. Quem ja esteve aqui, e se identificou com o país, sabe que a gente sente alguma coisa, mesmo sem saber dar nome a ela. Claro que entre se sentir assim e decidir mudar toda a minha vida tem um grande passo, e aqui vem a parte da identificação com alguma esfera da vida israelense. Eu ja tinha uma identificação e sentimento muito grandes por algo que passou a ser meu facilitador, a dança. Quem me conhece sabe que amo dança, que sempre estive envolvida nesse movimento em Porto Alegre e aqui, esse foi e é o meu link com a sociedade israeli. Na verdade, a grande identificação que esta por trás eh o judaismo, mas mesmo o meu ser judia teve que se adaptar a realidade israelense porque ser judia em Israel é muito diferente de ser judia na diáspora.Pequenas coisas no dia a dia foram me "conquistando" como, por exemplo, escutar no ônibus músicas de arkadá que aprendi quando estava na 7 serie, poder dizer "shabat shalom" para o motorista de ônibus, "shaná tová" ao moço do boteco da esquina, ver todas as casas comemorando Rosh Hashaná e todo o país absolutamente parado em Iom Kipur. Foi ver e viver tudo aquilo que estudei, ensinei e acreditei durante 28 anos. Entao, decidi vir atrás dos meus objetivos pessoais e profissionais aqui. Por que nao basta sentir, é tambem muito importante saber onde se quer chegar, o que se quer alcancar. Ter muito claros os objetivos, sejam eles, de pequeno, médio ou longo prazo, nao importa, o que importa é te-los.

Sababah - Em que cidade você vive?

Sztiler - Logo que cheguei morei em Jerusalem, no Ulpan Etzion, que hoje em dia nao existe mais. Era um Merkaz Klita (Centro de Absorção só para jovens universitários) e Ulpan (Curso) de Hebraico para Olim Chadashim. Depois morei um tempo em Rishon le Tzion e agora moro em Holon, que ainda eh muito perto de Tel Aviv, mas nao tem a loucura de lá, mas também não tem aquela praia...

Sababah - O que você está fazendo em Israel (trabalho, estudos).

Sztiler - Eu sigo trabalhando como coreógrafa e professora de dança israeli. Dou aula em 4 escolas e no Machon le Madrichim para os grupos que estão fazendo Shnat. E estou muito feliz e realizada por continuar a atuar no mercado da dança aqui, que é diferente, mais amplo. Além disso, nesse mercado específico, Israel é a fonte de conhecimento e a inspiração para as comunidades do mundo inteiro. Em relacao aos estudos, comecei ano passado mestrado em Educacao na Universidade de Tel Aviv, mas esse ano tranquei o curso até o ano que vem. E sobre isso acho importante dar um recado às pessoas que vem a Israel apenas em busca do famoso mestrado internacional: nada cai do ceu. A gente tem sim essa bela oportunidade de estudos financiados, a Agência Judaica nos mostra todas as possibilidades, mas precisa estar muito determinado a seguir esse caminho e pesquisar bastante antes da decisão. Entrar em contato com pessoas daqui, profissionais, professores, saber como é a área profissional e começar a estudar hebraico e inglês desde ja! A maioria dos mestrados aceitam trabalhos e teses em ingles, mas as aulas são em hebraico. Acredito que a segurança é outra quando ja se tem um conhecimento da língua antes de chegar aqui.

Sababah - Você pensa em voltar para o Brasil?

Sztiler - Não. Tenho muita saudade de etapas e conquistas maravilhosas que tive. Tenho saudade dos amigos e, principalmente, da família mas hoje, não me imagino voltando.

Sababah - Conte um pouco do que já viveu na comunidade judaica de POA.

Sztiler - É praticamente toda minha vida! Acho que entre as mais marcantes foi com certeza todos os anos que dancei no Kadima. Nesse marco com certeza conheci e tenho ate hoje meus melhores amigos e dele guardo as vivências mais intensas. Depois tem os 10 anos em que trabalhei no Colégio Israelita após ter estudado lá minha vida inteira. Foram 24 anos dentro daquelas paredes! É a minha segunda casa. Lá me formei como pessoa e como profissional da área que atuo até hoje. Aprendi muita coisa e acredito ter deixado também muita coisa para os meus alunos.E ainda trabalhei no Centro Israelita no Lehatid e Letamid por 5 anos. Também conheci pessoas muito importantes para mim, aprendi muito, aprendi que o judasimo é para jovens, que precisamos compreendê-lo, que existem diversas formas de se aproximar da religião. Através do meu trabalho nessas instituições meu envolvimento na comunidade foi crescendo ao longo dos anos, e quando se começa é muito difícil parar, a gente tem a prova que só depende de nós para que ela continue existindo.

Sababah - Em que momentos da sua vida em Israel bate “aquela” saudade daqui?

Sztiler - Quando dá vontade de comer um bom churrasco no domingo! Hahaha, to brincando. Aliás, mais ou menos. Dói mesmo quando me dou conta de tudo que estou vivendo e construindo e minha mãe e minha família estão longe. Depois disso, bate saudades quando encontro amigos brasileiros e você sente aquele abraço, aquele calor, aquela "brasileirice" no ar. Quando está passando um filme ótimo na TV e você comeca a entender e depois se perde porque as legendas estao todas em hebraico. Começa a dar um cansaço e uma raiva de nao entender metade do filme. Fico com saudades da NET! E como escrevi no início, saudades de um belo churrasco no domingo, do marco do churrasco, da nossa cultura gaúcha. E me dá saudades quando vejo grupos de dança se apresentarem, aquela função antes da apresentacao, me lembro como me divertia e como foram felizes todos aqueles anos. Aqui tambem danço em um grupo, mas nunca será a mesma coisa.

Sababah - Colégio Israelita Brasileiro, Grupo Kadima, Professora de dança, Sinagoga Centro Israelita... O que foi levado disso tudo para Israel?

Sztiler - Tudo!!! E mais um pouco. Toda a minha experiência profissional no Colégio e no Centro Israelita, as minhas vivências como dancarina são a minha base, minha inspiração e acredito, meu diferencial como profissional. Está tudo aqui comigo!

Sababah - Qual a maior qualidade dos israelenses?

Sztiler - Serem muito diretos e práticos. Muitas vezes ligava para lugares para pedir informação e começava ao nosso jeitinho brasileiro " Oi, boa tarde, meu nome é Andrea, eu gostaria de pedir uma informação em relacao ao...." e no meio da frase ja era completamente e "delicadamente" interrompida pelo famoso "Nu?", tipo "Vamos querida, resume", em um tom já sem paciência. Nas primeiras vezes chorava de raiva, depois entendi que não é por mal, simplesmente nao precisa de toda essa introdução, não e falta de educação e nos poupa muita lenga lenga. Tem outra coisa. Eles podem gritar um monte, brigar, mas no fim sempre tem uma conversa entre dois senhores sobre a "Eretz Israel shelanu", acredito que eh uma qualidade que a gente encontra menos no Brasil, o patriotismo. E muitos também são muito sionistas, ficam muito alegres quando sabem que você é Ole Chadash, perguntam de onde, o porquê, e sempre dizem no fim "Tov meod, iofi". Tenho uma historia. Uma vez estava no ônibus em Jerusalem. Uma confusao no trânsito por causa da ponte na entrada da cidade que estava sendo construída. Um engarrafamento terrível, e todos começam a reclamar dentro do ônibus e é engracado porque as pessoas viram melhores amigas. Uma mulher do meu lado dizendo "mas por que trancaram, essa ponte que nao acabam nunca de construir", ficou reclamando. Então ela parou por alguns segundos, me olhou e disse: "aval ba sof ihie lanu guesher iafeeh" (mas no fim da história teremos uma linda ponte). Eles gritam, sao bem mais secos e ríspidos do que os brasileiros, mas defendem com unhas e dentes o que tem.

Sababah - Nos contaram que, recentemente, seu namorado foi chamado para o miluim* (serviço de reserva do exército - todo israelense, com idade entre 22 e 40 anos, após sair do exército, tem que se reapresentar uma vez por ano). O que você sentiu quando ficou sabendo?

Sztiler - Fiquei morrendo de medo. Ele ja foi convocado várias vezes, mas uma vez específica foi durante a última guerra em Gaza. Eu me apavorei. Tem algo que se chama Tzav 8. É quando o exército liga e você tem 8 horas para se apresentar na base. Ligaram um dia para dizer que a próxima vez que ligassem seria o Tzav 8. Cada vez que o telefone dele tocava...ja imaginava eu em casa, vendo na TV os soldados entrando em Gaza e ele lá no meio. Imaginei mil coisas, e das piores, e me dei conta dessa dura realidade. Israel é um país bem diferente do Brasil, que vive em estado de ameaça e alerta contra os inimigos. Pensei que passarei isso com meus filhos e assim será. Tem muita gente que nao gosta do nossso povo e acredito que falta muito para alcançarmos a paz.

Sababah - Qual o sentimento dele (namorado) em relação a isso? Vocês tem olhares diferentes?

Sztiler - Sim, óbvio. Para ele, o exército não é um fantasma ou algo que só viu na televisão. Ele passou por isso durante 3 anos da vida dele e passou por situações que não se esquece em uma vida inteira. É próximo dele, ele cresceu com isso, os pais dele estiveram no exército. É logico que em situações de guerra se fica bem mais apreensivo, mas ele é do tipo que, se Israel precisar, eu estará la.

Sababah - Dá um recado para os seus amigos e todos aqueles que estão lendo a sua entrevista!

Sztiler - Meus amigos queridos, me faz falta a convivência com vocês, saber o que está se passando na vida de cada um, e fazer parte dessas etapas. Sinto saudades. Todos vocês sabem que serão muito bem vindos em minha casa quando decidirem passear por aqui. A todos outros, tentem conhecer Israel, se ligar ao país de alguma forma. Se alguém acha que Israel é maior do que a nossa pequena comunidade se engana, o país precisa tanto das comunidades quanto as comunidades dele. E em Porto Alegre tentem manter a nossa comunidade viva, se aproximem, se voluntarizem, vai fazer diferenca na vida de vocês.

Sababah - Com tanta vivência dentro da comunidade, como foi romper esse laço?

Sztiler - O laço nao foi rompido, está apenas com uma distância de alguns quilometros. A verdade é que morro de saudades...mas nao sofro de saudades. Se estivesse em Porto Alegre, sentiria essa mesma saudade, saudade do que passou. Claro, teria outros envolvimentos comunitários, mas já nao seria a mesma coisa. Sabe aquela sensação de que foi lindo enquanto durou mas ficou em outros tempos da minha vida? "Ein ma laasot", as coisas passam na vida.Fico feliz de ter aproveitado tanto essa vivência comunitária, de ter me divertido, me enriquecido durante os 13 anos em que dancei no kadima, os 10 anos em que trabalhei no Colégio e 5 anos em que trabalhei no Centro Israelita. É o meu bem mais precisoso, foram todas essas experiências e marcos judaicos que me construíram e só por causa delas eu estou aqui hoje, feliz e bem adaptada a nova vida.

Sababah - Você já está falando bem em hebraico? Foi muito difícil aprender?

Sztiler - Falo sim, me comunico muito bem, apesar de que quanto mais tu acha que sabe, mais te dá conta que tem muito o que aprender. Nao foi difícil porque falo hebraico em casa, no trabalho, precisei do hebraico já nos primeiros meses que estava aqui. Mas não tem muito segredo, tem que soltar a língua e nao ter vergonha, porque saber hebraico so no papel nao adianta.

Sababah - Qual a tua dica para quem está em dúvida entre fazer ou não aliá?

Sztiler - Pensar muito, pensar com paciência, sem angustia, sem medo, colocar prós e contras. Nao acredito que todas as pessoas sao feitas para morar aqui. Mas acredito que muitas podem tentar de verdade. E para tentar uma vida de verdade aqui, a minha dica é que as pessoas tentem se conectar a Israel em diversas áreas de suas vidas. Não apenas aos estudos, apenas a um trabalho, apenas a um amor, porque a nossa vida é feita de muitos aspectos que nos fazem felizes. E quando um nao está tão bom, tem que ter outro para se apoiar e seguir em frente. Tem muitas variáveis que nao controlamos que interferem intensamente em nosso dia a dia aqui: a saudade, a falta do nosso "calor" brasileiro, viver em uma cultura diferente, estranhar costumes, nao entender direito ideias e a cabeça das pessoas. Tudo isso faz com que nos sintamos super estranhos, sentirmos que estamos fora. Isso nao temos como controlar, só estando aqui vivendo e tentando. Mas em relação aos objetivos mais concretos como trabalho e estudos, quanto maior o numero de incertezas puderem ser eliminadas e esclarecidas antes, menores as chances de se "perder", se decepcionar, desisitir e voltar. As pessoas voltam por diversos motivos e, com certeza, cada um tem a sua razao de fazê-lo.Mas que pelo menos nao volte com uma sensação de ter sido surpreendido com um Israel que não estava preparado, de ter imaginado que chegaria no paraíso mas se deu conta de que paraíso nao existe.

Sababah - Conta uma história curtinha, engraçada, que você viveu por aí!

Sztiler - Nada de muito especial, mas vocês podem ter certeza de que depois que tu diz que é brasileiro aqui, os israelenses têm um brainstorm espontâneo, então eles comecam: Ronaldinho, Carnaval, Samba, futebol, alegria, muita festa, novela, enfim, acho que eles pensam que o Brasil é uma grande festa que nao termina.

Sababah - Te chamam de Andrea ou de Sztiler?

Sztiler - Me chamam de Andrea. Sztiler é só para os íntimos, haha. Sério, quem me chama de Sztiler é quem me conhece há muito tempo e a brasileirada aqui que escuta e acaba pegando. De resto, virei Andrea.

Sababah - Verdade que o Elron (namorado) fala muito bem português?

Verdade. Já entende bastante coisa, consegue se comunicar muito bem. Quando começamos a namorar, ele procurou na Internet um website e a professora oficial dele era o site www. sonia.com.br. Então ele foi aprendendo sozinho e vieram as perguntas mais engraçadas: "O que é mesmo?" ; "O que que que tu tá fazendo?" etc. O mais triste é que tu tenta explicar e nao se lembra da metade das regras do português.

Sababah - Nos contaram que você está ensinando ele a falar um português, digamos, meio delicado...

Sztiler - Hahahahahhaha, o que eu vou fazer???? Ensino como falo. Além disso, ele tambem aprende me escutando falar com outras pessoas. Quando o Lucas (Lucas Schwetz) esteve aqui em casa, um dia o Elron ligou a estufa e disse para ele vir pra sala que estava bem quentinho. O Lucas riu e comecou a dizer que ele nao pode falar assim como mulher.

Sababah - O que vem na sua cabeça quando você escuta a palavra "Andandino"?

Sztiler - Um monte de crianças rindo e pulando!!! Porque é isso que vejo por aqui quase todos os dias quando escuto essa música.

Sababah - O que, para você, é algo Sababah?

Sztiler - "Ta aí, uma boa ideia"

2 comentários:

Anônimo disse...

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