quarta-feira, 12 de maio de 2010

Nós, os alieníginas

Texto retirado do site www.pletz.com, escrito por Alexandre Ostrowiecki. A realidade do conflito no Oriente Médio e a repercussão disso em países leigos como o Brasil. Não se assuste com o parágrafo inicial!

“Havia uma terra árabe feliz, em que a maioria islâmica convivia pacificamente com outras religiões. Essa terra se chamava Palestina. No entanto, a partir do século XIX, um movimento colonialista e racista chamado Sionismo decidiu transplantar europeus para a Palestina, matando e expulsando os habitantes originais. Esse movimento eventualmente conseguiu formar o Estado de Israel, um Pais agressor e expansionista que de guerra em guerra foi aumentando cada vez mais de tamanho às custas dos verdadeiros nativos. O que os judeus sofreram durante a Segunda Guerra Mundial agora infligem aos palestinos.”

Em linhas gerais, o parágrafo acima é um resumo do que a propaganda palestina vem martelando dia apos dia em escolas e universidades pelo mundo afora. Segundo essa versão, não há ligações prévias do povo judeu com a terra de Israel, não existem indícios de que os judeus buscaram a paz ao longo dos anos, não existem erros palestinos, pecados palestinos, somente uma luta maniqueísta entre o bem (eles) e o mal (nós). É como se o conflito do Oriente Médio, um dos mais complexos do mundo, fosse reduzido a historias de invasão de alienígenas.

E a versão esta “colando”. Recentemente estive na ESPM dando palestra sobre o assunto para um grupo de estudantes de relações internacionais. Eu era o segundo palestrante. Duas semanas antes havia ido um primeiro palestrante, trazendo a versão palestina do conflito. Segundo os professores, havia mais de 50 alunos participando. Quando chegou a hora de escutar um pouco do outro lado (nós), havia apenas 6 alunos, praticamente dez vezes menos.

Essa falta de interesse em ouvir o outro lado é preocupante. Já não é fácil equilibrar esse debate com as deficiências que temos hoje, como a falta de gente qualificada, a vantagem que os palestinos tem em imagens e a parcialidade escancarada das esquerdas. Se somar-se a isso o desinteresse mesmo em escutar o que temos a dizer o desafio cresce exponencialmente.

O antídoto para o veneno precisa ser dado com firmeza e distribuído para todo lado. Ao conversar com os alunos de relações internacionais da ESPM percebi que havia um completo desconhecimento por parte deles a respeito de qualquer ligação prévia dos judeus com a terra de Israel. Em uma faculdade para jovens de alta classe social, no curso especialmente voltado para questões internacionais, eles não tinham idéia a respeito da história da região. Ao longo da conversa, percebi que não basta iniciar a narrativa com o surgimento do sionismo. Em todas as palestras e debates anteriores, eu entendia que na questão do Oriente Médio deve-se manter a discussão dentro do período entre o final do século XIX e os dias de hoje. Descobri que isso é um erro estratégico. É fundamental mostrar o máximo de ligações prévias dos judeus com a terra de Israel pois do contrário a legitimidade de existir um Estado judeu lá fica comprometida.

Contei a eles que os judeus são um dos povos mais antigos do mundo, que há mais de 3000 anos já havia um Estado judeu em Israel, que a terra de Israel é sagrada para nós, que Jerusalém é mencionada centenas de vezes na Bíblia e foi fundada por judeus, que nós rezamos voltados para Israel e muitas outras coisas. Nada disso eles tinham a menor idéia. Isso cristalizou firmemente neles a noção de que Israel não é somente um pedaço de terra para nos e sim que é O pedaço de terra.

Contrastei respeitosamente com o fato de que os árabes só chegaram lá muitos séculos depois (século VII) e que obtiveram a terra através de conquista sangrenta (indo por água abaixo, portanto, o mito do “bom nativo”). Falei também que o Alcorão não menciona nenhum lugar de Israel e que nunca houve um estado independente palestino. Deixei claro que nada disso tira a legitimidade das reivindicações nacionais palestinas, mas que esses fatos tornam absurdas as alegações da propaganda extremista de que os árabes e somente eles têm ligações legítimas com a terra. Percebi que essas afirmações tiveram impacto significativo nos alunos.

Outro ponto muito perguntado foi a respeito do anti-semitismo europeu e o Holocausto. Apesar de muitos já terem ouvido falar no Holocausto, pouca gente têm uma noção clara da magnitude daquele horror e seu impacto sobre o pensamento judaico. Expliquei aos alunos que o Holocausto basicamente foi um projeto executado pela Alemanha nazista para exterminar em escala industrial o povo judeu inteiro. Contei que o projeto iniciava separando judeus do restante através de leis cada vez mais restritivas, que iam tornando os judeus uma população excluída, que continuou amontoando a população judaica em guetos e depois em campos de concentração, onde idosos e crianças eram liquidados imediatamente e adultos eram transformados em escravos até o momento do abate.

Enquanto o mundo olhava indiferente, o projeto do Holocausto seguia em frente, eventualmente matando noventa por cento dos judeus em que os alemães conseguiram por as mãos. Não é fácil para um jovem cristão em um País como o Brasil entender o que significa ser abandonado pelo mundo, completamente indefeso, diante de tal barbárie. No entanto, ao saber mais sobre o Holocausto, tive a sensação de que os alunos puderam compreender porque Israel pode às vezes passar a imagem de ser militarista e responder violentamente às ameaças. Citei Golda Meir quando ela disse “prefiro receber críticas a receber condolências”. Ficou claro que a experiência do genocídio aliado à indiferença mundial fez os judeus entenderem claramente que só podemos recorrer a nós mesmos. O fato de Israel estar localizado no meio de um mar de árabes hostis não ajuda nada a tornar o País mais dócil.

Entender que a história dos judeus está naquela terra é um pilar para apoiar Israel. Entender que o Holocausto tornou a existência do Estado judeu indispensável é outro pilar.

A guerra da contra-propaganda é longa e árdua, mas não podemos abrir mão dela. A perseguição aos judeus se baseia na repetição de mentiras aos ignorantes. Se ninguém contestá-las, as mentiras tornam-se verdades.

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