Rodrigo Constantino, O GLOBO, 31 de Maio
“Não é possível discutir
racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos
argumentos.” (Karl Popper)
As recentes declarações do presidente Obama
reacenderam o debate sobre o confronto entre Palestina e Israel. Todos gostam de
emitir opinião sobre o assunto, mesmo sem embasamento. Não pretendo entrar na
questão histórica em si, até porque isso foge da minha área de conhecimento. Mas
gostaria de colaborar com o debate pela via econômica.
Do meu ponto de vista,
há muita inveja do relativo sucesso israelense. A tendência natural é defender
os mais fracos. Isso nem sempre será o mais justo.
O antissemitismo é tão
antigo quanto o próprio judaísmo. Os motivos variaram com o tempo. Mas, em minha
opinião, não podemos descartar a inveja como fator importante. A prática da
usura era condenada pelos católicos enquanto os judeus desfrutavam de sua
evidente lógica econômica. Shakespeare retratou o antissemitismo de seu tempo em
seu clássico “O mercador de Veneza”, em que Shylock representa o típico agiota
insensível. Marx, sempre irresponsável com suas finanças, usou os judeus como
bode expiatório para atacar o capitalismo. O nacional-socialismo de Hitler foi o
ponto máximo do ódio contra judeus.
Vários países existem por causa de
decisões arbitrárias de governos, principalmente após guerras. Israel é apenas
mais um. Curiosamente, parece que somente Israel não tem o direito de existir.
Culpa- se sua existência pelo conflito na região, sem levar em conta que os
maiores inimigos dos muçulmanos vêm do próprio Islã. O que Israel fez de tão
terrível para que mereça ser “varrido do mapa”, como os fanáticos
defendem?
Israel é um país pequeno, criado apenas em 1948, contando hoje com
pouco mais de sete milhões de habitantes. Ao contrário de seus vizinhos, não
possui recursos naturais abundantes, e precisa importar petróleo. Entretanto, o
telefone celular foi desenvolvido lá, pela filial da Motorola. A maior parte do
sistema operacional do Windows XP foi desenvolvida pela Microsoft de
Israel.
O microprocessador Pentium-4 foi desenvolvido pela Intel em Israel. A
tecnologia da “caixa postal” foi desenvolvida em Israel. Microsoft e Cisco
construíram unidades de pesquisa e desenvolvimento em Israel. Em resumo, Israel
possui uma das indústrias de tecnologia mais avançadas do mundo.
O PIB de
Israel, acima de US$ 200 bilhões por ano, é muito superior ao de seus vizinhos
islâmicos. A renda per capita é de quase US$ 30 mil. Apesar da pequena população
e da ausência de recursos naturais, as empresas i sraelenses exportam mais de
US$ 50 bilhões por ano. A penetração da internet é uma das maiores do mundo.
Israel possui a maior proporção mundial de títulos universitários em relação à
população.
Lá são produzidos mais artigos científicos per capita que em
qualquer outro país. Israel tem o maior IDH do Oriente, e o 15º do mundo. Não
custa lembrar que tudo isso foi conquistado sob constante ameaça terrorista por
parte dos vizinhos, forçando um pesado gasto militar do governo. Ainda assim, o
país despontou no campo científico e tecnológico, oferecendo enormes avanços
para a humanidade.
Quando comparamos a realidade israelense com a situação
miserável da maioria dos vizinhos, fica mais fácil entender parte do ódio que é
alimentado contra os judeus. Claro que fatores religiosos pesam, assim como o
interesse de autoridades islâmicas no clima de guerra. Nada como um inimigo
externo para justificar atrocidades domésticas. Mas as gritantes diferenças
econômicas e sociais sem dúvida adicionam lenha à fogueira.
Como agravante,
Israel é uma democracia parlamentar, enquanto a maioria dos vizinhos vive sob
regimes autoritários que ignoram os direitos humanos mais básicos. Isso para não
falar das gritantes diferenças quanto às liberdades femininas. Israel não é um
paraíso. Longe disso. Seu governo comete abusos que merecem repúdio. Mas, perto
da realidade de seus vizinhos islâmicos, o contraste é chocante. Será que isso
tem alguma ligação com o ódio a Israel e o constante uso de critérios parciais
na hora de julgar os acontecimentos na região? O sucesso costuma despertar a
inveja nas almas pequenas, vide o antiamericanismo patológico que ainda
sobrevive na esquerda latino-americana. Em tempo: O ministro brasileiro da
Ciência e Tecnologia deveria aprender com Israel como produzir tecnologia de
ponta, com ampla abertura econômica e investimento em educação, em vez de tentar
resgatar o fracassado protecionismo, no afã de estimular a indústria
nacional.
RODRIGO CONSTANTINO- é
economista.
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